Quanto mais dócil, mais fútil
Preparar cada aula, organizar o material didático, levantar diferentes recursos para ensinar um conteúdo e cuidar da ambiência (esse tema o professor nunca estudou em faculdade nenhuma, aff!) da sala, sem abrir mão da formação permanente e/ou continuada. Ter um jeito próprio de se organizar desde que compatível com o preconizado pelo Diretor, Supervisor, Delegado, Secretário ou Ministro e pela legislação da hora e planejar com antecedência, mostrar para Supervisores, Diretores, Delegados, Secretários ou Ministros aprovarem e separar o material didático previsto anualmente para ser usado e reservar tempo para rever o roteiro de atividades é sempre bom para garantir que não vá para o tronco.
Manter-se atualizado, tanto em relação aos conteúdos quanto à prática de sala de aula, é fundamental, pois pode-se fazer um mestrado, uma especialização ou apenas estabelecer uma rotina de estudos em casa ou na escola com algum colega (com muitos livros caríssimos vendidos pela editora do Ministério e pesquisa via internet que deve ser paga para a operadora como parte das merrecas recebidas como soldo). Cabe lembrar que professor-brasileiro-lerê-lerê não receberá nenhuma merreca à mais das preconizadas pelo Ministério do Ministro que recebe 50 mil reais mais carros oficiais, auxílio moradia, auxílio alimentação para comprar caviar e espumante francês pro lanche diário, seguranças (afinal sempre haverá professores pé-rapado tentando enforcá-lo), funcionários pagos pela presidência da república (assessores, motoristas porque é chique pro Ministro desfilar poder) e com isso, Ministros podem chegar a receber mais de R$ 100 mil mensais. A Constituição Federal determina que os Ministros de Estado serão escolhidos dentre brasileiros maiores de vinte e um anos e no exercício dos direitos políticos e essa escolha é feita pelo presidente da república, ou seja, nada impede um presidente da república de nomear uma pessoa sem nível superior. Ganhar 100 mil reais para ser puxa-saco de partido e de chefe de estado! As atividades previstas para o dia devem ser desenvolvidas individualmente ou em grupos e o professor-brasileiro-lerê-lerê deve rever a melhor maneira de ambientar a sala de aula, organizando o espaço com antecedência para não perder tempo com os alunos durante o período que durar a escravidão. Cada conteúdo exige um tipo de atividade, pois enquanto os alunos produzem textos ou resolvem problemas, uma boa dica é circular pela sala (mas não muito pois podem desmaiar de fome), e se decidir passar um filme, é essencial preparar um pequeno roteiro para a Direção, para o Supervisor, o Delegado, o Ministro e o Presidente, com pontos a ser observados, para se ter certeza que não é "matação" de aula. Para alunos que sempre terminam tudo antes dos outros, será indicado ao tronco por causar irregularidades ao ritmo determinado pelo Ministério e ou pelo Delegado local. Encerrar o dia informando o que será realizado no dia seguinte é uma forma de demonstrar que planejou (como preconizado pela legislação) todas as aulas do ano letivo e que há continuidade (prevista pela legislação) no processo educativo, ignorando a emergência de temas geradores, mas daí é conversa pra subversivos como Paulo Freire que devem ser banidos do sistema. Alunos e professores lentos são os que cumprem as exigências burocráticas para receber dinheiro do fundo nacional preconizado no processo de docilização social. Reuniões com os colegas com a coordenação pedagógica e a direção não são fundamentais para revisar o planejamento e encaminhar as questões mais relevantes, pois ninguém se interessa por isso, muito menos o Ministro ou o Presidente. Não pode mesmo é fazer tudo de cabeça. Tem que estar tudo registrado senão os ratinhos de laboratório não recebem a gota de água para apertar a alavanca o que seria a catástrofe da nação!
LucianaFranKlin
Enviado por LucianaFranKlin em 17/03/2021
Alterado em 18/09/2021 |