Surto no elevador
Dimitri era um servidor público que há 24 anos trabalhava com pontualidade e assiduidade, sendo cumpridor das tarefas com afinco, embora tivesse o hábito de andar armado, por influência do pai, líder separatista. Cada governo que ele acompanhou terminava a gestão com suas contas aprovadas pelos tribunais competentes. Num mês pensava conseguir pagar as contas de água, luz, aluguel e não dava, sua irmã que vendia jogo do bicho, acabava colaborando com a comida! No outro a mesma coisa. O filho desempregado estava comendo na rua, junto com os mendigos e a esposa, há horas, estava conseguindo algum com faxinas, embora houvesse concluído o curso de doutorado na universidade federal e no conseguia passar em concursos, pois os três que ela fez foram suspensos por irregularidades nas prefeituras. "Os juízes vão receber salário integral", ouvia ele na televisão. "O governador concedeu aumento para si e sua equipe, já estava previsto no orçamento", ouvia da rádio. Foi na agência bancária e ouviu do gerente que poderiam refinanciar sua dívida, mas para isso ele precisava comprar uma capitalização e vários seguros, pois caso ele morresse, o banco não teria prejuízos. Saiu de lá e voltou para o trabalho. Quando chegou no elevador sentiu um aperto no coração. Estava sozinho. Não teria dinheiro para comer, nem para pagar a casa e as outras contas novamente.
Pegou a caneta e vomitou um bilhete rápido dizendo: "Aqui jaz a justiça para um trabalhador responsável. Morri por culpa do governo e dos organismos que perpetuam, aprovam e referenciam este disparate. Mandem um beijo para meu filho e minha esposa, eram tudo que eu tinha". Pegou o revólver e atirou na própria cabeça. A música do Biquíni Cavadão tocava quando o encontraram: " Eu sou do povo, eu sou o Zé ninguém. Aqui em baixo as leis são diferentes".
LucianaFranKlin
Enviado por LucianaFranKlin em 16/09/2021
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