O burguês tentará caminhar no meio termo

     As pessoas tem a possibilidade de entregar-se por completo ao espiritual, à tentativa de aproximar-se do ideal de santidade e tem, por outro lado, a possibilidade de entregar-se inteiramente à vida dos instintos, aos anseios da carne, dirigindo seus esforços aos prazeres momentâneos. Um dos caminhos leva ao martírio do espírito e o outro conduz à libertinagem, à corrupção. O burguês tentará caminhar entre ambos, pois nunca se entregará nem se abandonará à embriaguez, nunca será mártir porque seu ideal não é a entrega, mas a conservação do seu eu, quer servir à Deus, mas quer entregar-se ao êxtase, quer ser virtuoso, mas quer, também, viver comodamente sobre a terra. Tenta plantar-se no meio dos extremos, numa zona vantajosa, sem grandes tempestades e a custa da intensidade consegue a subsistência e a segurança, cultiva a tranquilidade da consciência, em vez do prazer, e em vez da liberdade, a comodidade de uma temperatura agradável. É uma criatura de impulsos vitais débeis, temerosa de qualquer entrega de si mesmo, fácil de governar, de governaMentalizar, como nos disse Foucault.