A educação é um bom humor artificial

     Os corpos dóceis são elemento compreendido pela sociedade capitalista sobre a figura ideal de soldados ou dos alunos e professores, através do detalhamento de sua postura, da separação milimétrica das classes e de cada imperativo de movimentação e estática (pare, ande, respire), pois são antes de tudo pessoas que deveríamos conhecer de longe, com seus sinais e marcas pelo uniforme, onde o corpo é objeto de formação para o futuro e se é verdade que devem aprender aos poucos os ofício (das armas, essencialmente lutando), as manobras como a marcha, as atitudes como o porte da cabeça se originam, em boa parte, de uma retórica corporal da submissão. Melhores alunos são como melhores soldados. A figura do soldado como do aluno ilustra o novo tipo de pessoa que, tempos mais tarde, seria objeto de esperança à tecnologia de poder disciplinar: adestrado, milimetricamente construído, formado a partir de um trabalho minucioso, detalhado, demorado, recorrente e dócil, um corpo que pode ser submetido, que pode ser utilizado, que pode ser transformado e aperfeiçoado: os famosos autômatos, bonecos políticos, modelos reduzidos de poder com obsessão por pequenas máquinas, dos regimentos bem treinados e dos longos exercícios.

     Nos colégios ou no exército e suas massas incontidas, que precisam ser acalmadas por psicólogos ou psicopedagogos para que não pilhem os locais de passagem e nem agridam os moradores, a fábrica e o hospital também entra no eixo de um espaço de distribuição de corpos, uma cidade fechada que só está disponível para indivíduos selecionados por tempo limitado, sempre em constante vigilância, com o auxílio da disciplina que trabalha os corpos sob o princípio da localização imediata com cada indivíduo no seu lugar; e em cada lugar, um indivíduo, decompondo as implantações coletivas; analisando as pluralidades confusas, maciças ou fugidias. O espaço disciplinar tende a se dividir em tantas parcelas quando corpos ou elementos que há paraa repartir.