LucianaFranKlin

É a mim mesmo que pinto. Michel de Montaigne

Textos

Semovente

Um semovente entra, senta-se na cadeira em frente ao psicólogo. O objetivo é ficar ouvindo informações e orientações. Escutar compenetrado que, baseado em cuidadoso e documentado trabalho, usando instrumentos científicos sofisticados, descobrira que aquele grãozinho era um milho de pipoca. Aprender sobre como ele iria estourar e virar um floquinho comestível. Ouvir que, com um salzinho, ficaria mais gostoso, menos insosso. À medida em que desempenhava seu papel, dava o texto, e o objeto de cena inicia numa inesperada metamorfose. Sua face torna-se expressiva, contrai-se, seu olhar enche-se de dor, horror, desespero e lágrimas. Seu corpo torna-se tenso, acompanhando seu semblante. Tanto sendo dito, mas não com palavras. Atônito diante da interrupção do texto, emudece também. O objeto rompera o script, o roteiro! Sua metamorfose completa-se e ele torna-se pessoa. Uma mulher que sofre imensuravelmente. Uma mãe que se exaspera, como se tivesse jogado seu filho em um abismo, sem que ela pudesse fazer um gesto para conter a queda. O que houve? 

 

Baseado no conto de Stephen King "O dedo semovente".

LucianaFranKlin
Enviado por LucianaFranKlin em 27/07/2023
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