LucianaFranklin

“A palavra é metade de quem a pronuncia, metade de quem a escuta” Michel de Montaigne

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Mas qual pode ser a causa de semelhante esquisitice?

Há entretanto outra coisa que simples mania: é a assimilação da voz e dos gestos próprios dos animais. Têm-se visto, é verdade, indivíduos abandonados nos bosques, desde tenra idade, que vivem com os animais, e lhes adquirem as vozes e os costumes, por imitação; mas aqui o caso é diferente: esse rapaz realizou estudos sólidos, vive em suas terras e dentro de uma aldeia, está em contato diário com seres humanos; portanto, tudo isso nada tem que ver com o seu isolamento e seus hábitos.

 

Pode dizer-se, na linguagem alegórica do tempo, que ele fora transformado em animal. Isto destrói, é certo, o milagre; mas quantos milagres tombam, hoje em dia, diante das leis da Natureza, descobertas diariamente!

 

Não esteve, como vós o dissestes muito judiciosamente, transformado em animal; ele estava, sim, como o paciente que vos ocupa no momento, privado por algum tempo do livre exercício de suas faculdades intelectuais, e isto; em condições que o assemelhavam ao selvagem, fazendo do déspota poderoso um objeto de piedade para todos.

 

Resulta desta explicação, perfeitamente racional, que está sob o império de uma obsessão que ai se apresenta sob um aspecto novo quanto à forma e quanto à causa determinante, mas que nada tem de surpreendente após o que nos tem sido dado ver todos os dias. Os psiquiatras estudam essas obsessões entre as psicoses e o Dr. Vallejo Nágera, Professor de Psiquiatria da Universidade de Madrid, no seu volumoso Tratado de Psiquiatria (1944), enquadra-as no capítulo das ideias delirantes metamorfósicas, que são as que conduzem aos transtornos da personalidade, com sintomatologia esquizofrênica primária, isto é, “emergem sem motivo e resultam incompreensíveis”.

 

O professor diz que nessas ideias delirantes “a sensação de transformação se reporta à mudança de posição interna do paciente, relativamente ao meio ambiente – fenômeno denominado transitivismo onde o paciente crê haver passado ao corpo de outra pessoa ou ao de um animal, num típico fenômeno, neste último caso, de personificação em animal” – observa ainda o Dr. Nágera. Nota-se, nesses doentes, o predomínio da Introversão sobre a extroversão, o empobrecimento da atividade psíquica e alterações outras que tornam a personalidade esquizofrênica clinicamente “inabordável, incompreensível, versátil, extravagante, brutal”. O professor de Madrid considera que “o conteúdo dos delírios esquizofrênicos se acha ligado às paixões, recordações, aos temores e remorsos: a tudo o que se deseja e teme, a todo o vivido e pensado. As enfermidades mentais radicam em duas condições prévias: uma, negativa, representada pela falta de adequado impulso ao bem; outra, positiva, representada pelas inibições cerebrais ao mal. Nos casos em que o impulso congênito ao bem se desenvolve em completa liberdade em todos os aspectos, o fator positivo somático não pode engendrar enfermidade cerebral alguma: a pureza jamais enlouquece, só enlouquece a culpa.”

 

Fonte: Vale da Esquisitice, Neurônios Espelhos. Wikipedia.org

Foto: Repliee Q2

 

 

 

 

 

LucianaFranklin
Enviado por LucianaFranklin em 08/04/2025
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